Digamos que o Joe Wright foi uma escolha um tanto curiosa para a direção deste novo Peter Pan versão live-action. Conhecido por dramas de época todos do estilo clássico, como Orgulho e Preconceito, ele apresentou uma mudança na carreira graças à sua versão de Anna Karenna, graças a um apurado e muito bem executado design de produção que encheu os olhos dos espectadores e acabou por lhe render uma indicação ao Oscar. Percebendo o talento do diretor no desenvolvimento de um mundo repleto de imaginação, os executivos da Warner foram atrás dele para que fosse o capitão do prelúdio de Peter Pan. Wright percebeu, mesmo sem jamais ter dirigido um blockbuster. Ao vermos o primeiro filme de uma esperada trilogia, pode-se perceber que ele sabia muito bem aonde estava a meter-se.
Com a mítica Neverland em mãos, Wright não se limitou a simplesmente fazer uma réplica dos conceitos e ideias já vistos tanto no livro de J.M. Barrie quanto nas incontáveis versões feitas para o cinema. Por mais que estejam lá elementos como o crocodilo Tic-tac, as sereias e as fadas, todos foram recriados de forma a que sejam reconhecidos mas não sejam exatamente iguais à figura presente no imaginário coletivo. Mais do que isto: Wright sabe bem que a sua função primordial, neste filme, é entreter o espectador. E é isto que ele faz, tanto com quem está sentado a ver quanto no próprio filme, através da brilhante analogia a la Moulin Rouge da canção “Smells Like Teen Spirit”. Sim, há os meus lindos Nirvana nesta aventura fantasiosa. Com domínio absoluto do material que tem em mãos, o diretor liberta a imaginação em sequências surpreendentes e visuais extravagantes. É por exemplo no Cirque du Soleil que busca inspiração para a cena do rapto de Peter e demais órfãos pelos piratas, assim como os grandes concertos de rock inspiram a apoteótica entrada do capitão Barba Negra. O nosso Hugh Jackmam, o seu intérprete, age como um verdadeiro popstar, usando e abusando de gestos expansivos para reger o público, histérico e eufórico pelo circo oferecido.
Tal como um verdadeiro carnavalesco, Wright habilmente divide Peter Pan em camadas que se transformam ao longo do desfile nos grandes ecrãs. São várias as técnicas exploradas, desde a fotografia cinzenta para retratar a temida Londres da Segunda Guerra Mundial à animação que serve para contar a história passada da mãe de Peter. A ação ganha espaço na empolgante e bem surreal perseguição do navio voador pirata pelos caças britânicos e também na fuga dos ainda amigos Peter e Gancho, com direito à queda livre de um teleférico amplificada pelo incrível 3D. Este, por sinal, é outra característica relevante de Peter Pan: o bom uso do 3D, com sequências inteiras pensadas e filmadas de forma a explorar a sensação de profundidade que o efeito oferece. O melhor exemplo é o momento em que Hugh Jackman pega num bastão rumo ao público, que ainda pode acompanhar a queda vertiginosa de uma bomba.
Além de nos oferecer um visual deslumbrante e extremamente criativo, Peter Pan ainda traz uma história que diverte. Por mais que haja deslizes como o uso da já repetitiva ideia de associar o personagem-título à imagem do escolhido – “the one”, em inglês -, as desventuras do jovem rapaz neste mundo ainda desconhecido convencem. Especialmente a parceria formada com o meu novo crush James Gancho, interpretado com um quê de Indiana Jones pelo galanteador Garret Hedlund, que brilha ainda no divertido sotaque criado para o personagem. O bom e velho Smee é o alívio cómico clássico, bem interpretado por Adeel Akhtar, e Rooney Mara, se não brilha, traz ao filme um colorido de figurino que agrega à paisagem multicores do filme. Por mais que tenha problemas de guião na reta final, especialmente no desfecho do Barba Negra, e possua uma fotografia bastante escura durante boa parte da duração, Peter Pan é um filme que impressiona principalmente pela proposta estética e pelo domínio demonstrado pelo diretor ao construir este mundo de fantasia tão envolvente e tão ousado. Prova do talento de Joe Wright e também do quanto compreende a posição deste filme dentre da indústria cultural hollywood.
Onde eu e a Neptune ficamos desiludidas, foi pelo facto do Hook e a Tiger Lily nunca se terem beijado, nem no fim, estava muito obvio que eles gostavam um do outro <3 Eu shipo-os imenso :)
E vocês que acham do filme? Já viram? Também os shipam?
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